A Câmara de Comércio
Internacional (CCI), representante de milhares de empresas de todas as regiões,
deflagrou ontem o sinal de alarme e conclamou o G-20 a fazer um plano conjunto,
urgente e "crível" para resolver a crise da dívida da zona do euro e
estabilizar a economia internacional.
Representantes de empresas como Nestlé, Shell, Nokia, McGraw-Hill,
Skandinaviska Enskilda Banken (SEB), Infosys (Índia), GDF Suez, Zurich
Insurance Group, Telefónica, reunidos em Paris no "G-20 Advisory
Group", reclamaram da falta de liderança governamental e insistiram que as
empresas não têm condições de investir e criar empregos devido às incertezas e
à volatilidade.
Em entrevista ao Valor, Jean-Guy Carrier, secretário-geral
dessa espécie de organização mundial das empresas, disse que a impressão entre
os empresários internacionais é de que "ninguém controla a situação, isso
excita os mercados e torna os investidores muito mais prudentes e as empresas
não podem criar empregos".
Ele acrescentou que "os governos na Europa e nos EUA não têm
dinheiro, mas as empresas têm e poderiam investir. Só que as condições não
estão dadas. Se você está preocupado com que o mundo possa entrar em colapso
amanhã, você não vai investir seu dinheiro. Se não há uma solução com
responsabilidade para estabilizar a situação global, permanece essa enorme
incerteza".
A CCI tem mantido contato com os governos desenvolvidos e emergentes do
G-20 para que anunciem um Plano de Ação em Cannes, no começo de novembro, que
sinalize medidas coletivas pra energizar a economia mundial e resolver a crise
que é cada vez mais financeira.
"O que esperamos é que cada país faça sua parte e haja medidas
complementares", disse Carrier. Com os países desenvolvidos em crise de
endividamento, as empresas estão conscientes de que vão acabar pagando mais
impostos. Mas o executivo afirma que isso praticamente já está contabilizado
nas estratégias das companhias.
"O que está afetando as
empresas cada vez mais é essa volatilidade", afirmou Kasemsit Pathomsak,
presidente da Merchant Partners Securities, da Tailândia. "Um dia é muito
capital que entra no país, no dia seguinte muito que sai e o valor da empresa
acaba caindo 30% sem mais nem menos."
Doug McKay, vice-presidente da
Royal Dutch Shell, pediu para os governos conterem o excesso de medidas
regulatórias, ainda mais no cenário atual, para que as empresas possam ter um
cenário mais claro sobre os próximos dez anos para poder investir.
Além da falta de liderança e
total bloqueio atual dos governos desenvolvidos para resolver a crise da
dívida, os empresários sinalizam preocupação cada vez maior com medidas
protecionistas nos últimos meses.
Carrier diz que, com a crise
da dívida soberana, o financiamento ao comércio internacional praticamente
"secou" em regiões como a África. Em outras áreas, esse financiamento
ficou mais caro.
A entidade vem tentando também
junto a governos que deem um novo sopro na Rodada Doha, que está congelada. Uma
das ideias é que os países passem a negociar acordos plurilaterais, nos quais
participa em entendimentos específicos quem quiser.
No entanto, dentro do G-20 os
negociadores não estão querendo sequer mencionar o termo "Doha". E
mesmo "protecionismo" é tema de controvérsias.
Fonte:
Valor Econômico
Publicado
em 04/10/2011
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